terça-feira, 30 de setembro de 2014

A Coleção Artsy da Prada ( Prada's Artsy Collection )

Cores, brilhos e texturas; eis a Prada !

Apesar da coleção primavera/verão 2014 da Prada ter sido desfilada no final do ano passado, acho pertinente falar um pouco sobre ela, que além de ser uma das minhas favoritas ( ao lado daquela coleção bizantina da Dolce & Gabanna, dentre outras ), iniciou de certa forma , um grande movimento " artsy na moda " que perdura até hoje . Várias grifes utilizaram posteriormente essa temática em suas coleções .

Caleidoscópio

A estampa queridinha pela moda vem do universo das artes plásticas. O termo artsy é usado para definir as estampas que foram inspiradas em pinturas contemporâneas e também na jovem arte de rua. Elas são extremamente gráficas, coloridas e podem ser abstratas ou figurativas ( paisagens, pessoas etc ) .

Sobre a coleção ...

A Prada apresentou uma coleção que uniu o universo esportivo com a moda artsy - uma coleção digamos " sport chic " !
A grife italiana trouxe para a cenografia e para as peças de sua coleção, ilustrações de vários artistas, inspiradas na arte muralista mexicana. Com styling de pegada " hip-hop " , foram realizadas intervenções artsy de artistas como El Mac, Gabriel Specter, Pierre Mornet, Stinkfish, Jeanne Datallante e Mesa.

Paredes ilustradas, assim como os vestidos.

A arte muralista

A arte e a moda - together here

O rosto da garota, no mural e no vestido

O tema esportivo, que está há algum tempo em voga, apareceu em vestidos de tricô com modelagens simples, saias plissadas ( estilo tenista ou uniforme colegial ), polainas estilo " meião de futebol ", sandálias e sapatos com sola de borracha. Roupas descomplicadas e bonitas - que agem diretamente sobre os desejos femininos. Uau !

Bustiês sobre vestidos

Efeito trompe l'oeil

Polainas dão um toque esportivo ao visú

O desfile casual chic da Prada trouxe peças com muita cor, textura, estampas e bordados elaborados. Os muitos vestidos da coleção ganharam decotes e vazados, cores vibrantes, desenhos de figuras femininas, pedrarias e sobreposições de bustiês , às vezes aplicados em trompe l'oeil contrastante , ou incorporados às peças na forma de recortes - e " casacos " nos ombros. Miuccia Prada também estampou em seus casacos de pele imagens das ilustrações das paredes da sala.

Os casacos também foram estampados

Casacos sobre os vestidos. Bolsas, indispensáveis !

Shapes descomplicados

Sport chic, tres chic !

O verão extremamente colorido da Prada nos mostra que sofisticação não precisa ser necessariamente minimalista, e que nada mais chique do que alegria com bom gosto ( no caso, as cores ) .
Miuccia Prada comentou a respeito de sua colorida coleção : " Eu tinha essa ideia de que se você usar uma roupa tão exagerada, as pessoas vão olhar e, então, vão te ouvir " .

Os óculos da Prada foram sensação , coloridos e estilosos


I luv colours

Até a editora-mor Anna Wintour aderiu ao casaco artsy

O fotógrafo Steven Meisel foi o responsável pela campanha da grife, que foi bem mais simples do que se poderia supor, por se tratar de uma campanha da Prada, mas de qualquer modo, ficou muito bonita . 

Prada, that's it !

That's all folks !

E vocês, gostaram ???

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O mercado de trabalho de moda no Brasil ( The labor market of fashion in Brazil )

Esse texto é um post " desabafo " - onde exporei meu ponto de vista e minha crítica em relação a esse mercado de trabalho injusto - aliás, uma das áreas mais injustas e fechadas , e eu direi o porquê . Também falarei um pouco sobre a história e a situação atual da moda no Brasil.

A moda brasileira e a concorrência ... Um pouco da história da moda no Brasil.

A moda brasileira tem evoluído bastante ao longo das últimas décadas e tem ganhado crescente destaque no mercado internacional. 
As principais semanas de moda brasileira, a SPFW ( São Paulo Fashion Week ) e o Fashion Rio, estão entre as principais semanas de moda do mundo. São Paulo e Rio de Janeiro estão na lista das cidades mais fashion do mundo. Além disso, muitos estilistas brasileiros desfilam suas coleções nas semanas de moda estrangeiras. Mas nem sempre foi assim ...
Até meados dos anos 80, podemos dizer que não existia uma moda dita " nacional " no Brasil . O que havia na maioria era a cópia generalizada dos modelos mostrados em Paris, Londres, Milão e New York . Eram poucos os que desenvolviam de fato sua criatividade e procuravam criar um " estilo de moda nacional " utilizando elementos típicos brasileiros e matérias-primas regionais, podemos destacar : Dener, Clodovil, Zuzu Angel, Conrado Segreto e Lino Vilaventura ( pouco tempo depois ).

Dener:

Dener foi um dos pioneiros da moda brasileira

Dener criou o tipo " costureiro-estrela"

Modelo de Dener

Clodovil :

Clodovil era concorrente direto de Dener

Seus modelos eram muito elogiados pela alta-sociedade

Elke Maravilha era uma das modelos favoritas de Clodovil

Zuzu Angel:

A grife de Zuzu tinha DNA tipicamente nacional

Zuzu  enfrentou a ditadura em busca de justiça


Zuzu utilizava  bastante a chita e a renda em seus modelos

Elke também era modelo de Zuzu Angel

A moda chegou muito tarde por aqui. As pessoas ficavam sabendo as novidades da moda através de revistas - por exemplo, o que estava fazendo sucesso em Paris. Posteriormente a moda londrina foi bastante apreciada e copiada pelas brasileiras.
As donas-de-casa copiavam os modelos que faziam sucesso, através dos moldes que saiam em revistas - usando a criatividade em suas máquinas de costura caseiras. Antes, o que havia no Brasil eram costureiras e modistas que se inspiravam no que estava fazendo sucesso lá fora.

Principais revistas do país ( que também falavam de moda ):

O Cruzeiro era uma revista bastante apreciada pelos brasileiros

Elegância dos anos dourados retratados na revista O Cruzeiro


A revista Manchete também era bastante popular

Edições da Manequim da década de 70

A revista Cláudia foi uma das pioneiras no Brasil

Nos anos 60 ocorreram alguns desfiles em casas de moda promovidos por grandes confeccionistas que ajudavam a movimentar o setor. A moda brasileira era relativamente " amadora " e produzíamos mais "roupas" do que propriamente "moda".
A situação começou a mudar nos anos 80, quando começaram a surgir cursos superiores de moda nas universidades, além dos cursos técnicos voltados para a área de confecção , dando uma profissionalização ao segmento. Naquela época os desfiles apresentavam um estilo performático, digamos " desfiles-espetáculo " .
Nos anos 90, tivemos o surgimento e aperfeiçoamento das semanas de moda brasileiras, como o Phytoervas Fashion - que logo se tornou Morumbi Fashion - que é o nosso atual SPFW. As supermodelos brasileiras, como Gisele Bündchen , ajudaram a levar o nome do Brasil para o exterior.


Paulo Borges. o mentor das semanas de moda de SP e Rio

Morumbi Fashion vira São Paulo Fashion Week

Moda, meados nos anos 80

Anos 90

Phytoervas Fashion, primeira semana de moda de São Paulo

Morumbi Fashion, que substituiu a Phytoervas Fashion

Alexandre Herchcovitch, em início de carreira no Phytoervas Fashion

Gisele Bündchen em edição do Morumbi Fashion

Duas fases de Gisele ( início de carreira e auge )

A moda brasileira se profissionalizou, e lá fora o Brasil passou a se destacar pelo seu denim e pelos biquínis.


O Brasil tem uma grande reputação lá fora por causa do seu denim

O denim é o tecido mais democrático e versátil que fica bem em todo mundo

Os biquínis são produtos de exportação made in Brazil ( peças da Lenny Niemeyer )

A Rosa Chá trouxe novas propostas para a moda praia

A moda nacional não cresce mais ainda por causa da imensa burocracia, carga tributária elevada e a falta de incentivos ao setor confeccionista. Dai o país perde competitividade se comparado a países como a China, por exemplo. Só pra se ter uma ideia, grande parte do poliéster que o Brasil utiliza vem da China.
A moda, assim como toda a indústria, possui uma cadeia produtiva que começa com fiações, tecelagens, confecção e lojas. Por causa dos altos tributos, sai mais barato confeccionar  as peças na China do que nas próprias confecções brasileiras e por conta disso muitas confecções nacionais fecharam.
Com todo esse cenário, o mercado de trabalho de moda têm se tornado cada vez mais fechado , competitivo e injusto no Brasil - principalmente na área de estilo.

O mercado de trabalho na moda

A moda possui em si diversas áreas de trabalho que começa nas fiações e tecelagens, confecções ( costureira, piloteira, enfestador, riscador, cortador ... ), estamparias, criação ( estilista, assistente e auxiliar de estilo, modelista ), e vai pra parte visual e de jornalismo ( produtor de moda, personal stylist, fotógrafo, jornalista de moda, editor de moda ), além das áreas relacionadas com pesquisa ( coolhunters ), marketing, compras e varejo. Mas não vou me ater a todas essas áreas, pois meu foco principal nessa crítica é a área de criação.

Desde muito tempo atrás, com o advento da alta-costura, a moda exala fascínio e glamour - principalmente com o surgimento do " costureiro " ou couturier e posteriormente "estilista ", o que cria estilos.
Antes, o estilista era chamado de costureiro ( ou couturier ), que ganhava status a partir que sua moda começava a se destacar entre as mulheres da alta-sociedade. O pioneiro disso tudo foi o costureiro inglês radicado na França, Charles Frederick Worth , iniciador da alta-costura - que era muito conhecido e admirado por suas criações suntuosas e elegantes. Ele tinha muitas seguidoras famosas. Depois tivemos outros grandes, como : Paul Poiret, Doucet, Madeleine Vionnet, Chanel, Elsa Schiaparelli, Balenciaga, Dior ... A partir dos anos 60, com o surgimento da moda prêt-à-porter, surgiu o termo " estilista ".


Worth, o pai da alta-costura


Paul Poiret libertou a mulher do espartilho

Vionnet foi a mestra do drapeado

Chanel, a mulher-lenda da moda ( the woman legend of fashion )

Elsa Schiaparelli uniu moda à arte

Balenciaga, o mestre do corte e da modelagem elegante

Christian Dior, o responsável pelo new look

Geralmente o estilista antes começava como aprendiz de um mestre-costureiro e conforme fosse ganhando prática, ganharia o cargo de " assistente ", como acontecia nas oficinas de artesãos e pintores na Idade Média e Moderna. Ele saia à procura de oportunidades. O costureiro via através de seus desenhos se o candidato tinha talento ou não. Outros conseguiam dar continuidade aos negócios de família ou eram autodidatas que já costuravam e foram desenvolvendo seu talento. 
Essa visão romantizada começou a mudar já em meados dos anos 60 e 70 , quando aumentaram consideravelmente os cursos de moda e estilo - e os antigos costureiros passaram a ser estilistas de curso superior.

Agora em se tratando de Brasil tudo foi mais complicado ...

Anos atrás, muitos estilistas eram autodidatas, mas com a maior profissionalização da moda nacional, muitos futuros estilistas passaram a cursar uma universidade a medida que se abriam mercados para a moda nacional.
O problema é que as vagas de moda não acompanharam o crescimento do setor e como consequência, passaram a exigir coisas absurdas dos profissionais.
Dentro da área de estilo, além do " estilista ", passaram a surgir cargos como : o designer de moda, o assistente e o auxiliar de estilo . A moda no Brasil ainda tem uma gestão amadora se comparado a outros países - e algumas dessas funções não tem sequer registro e piso salarial ( só média salarial ) e não se sabe ao certo quais atividades competem à determinada função. O resultado é que, quando resolvem contratar, as confecções e empresas de moda sugam ao máximo o funcionário de estilo - que é quase um  " slave fashion ".

Abaixo, imagens que remetem a um atelier de moda:


Tecidos, linhas, fita-métrica são parte essencial da moda

Croquis e desenho técnico idem

O dia-a-dia do atelier

A pesquisa de moda é o primeiro passo para o desenvolvimento de uma coleção

O conhecimento de cores e variações é muito importante pra moda



Logo que terminei o ensino médio ( antigo colegial ) e comecei a procurar trabalho na área, eu sempre  via anúncios que precisavam de gente que tivesse curso superior ou técnico profissionalizante em moda. Diziam que se você se formasse em moda, teria o seu " tão sonhado emprego em estilo ".
Eu não tinha dinheiro para pagar uma faculdade, e não havia muita opção na época, por isso as que ofereciam o curso eram caríssimas. Resolvi investir num curso de corte-e-costura, que é essencial pra quem quer trabalhar com roupas. Enquanto isso comprava livros de moda e arte, revistas de moda e estilo e tantava assimilar ao máximo - além de desenhar, e muito !
Depois passei a confeccionar acessórios artesanais utilizando patchwork e bordados pra vender . Pouco depois, arrumei emprego fixo e então fiz o técnico em desenho de moda e cursei a universidade. Achei que seria o suficiente. Que nada ! Se antes pediam a faculdade, hoje algumas empresas pedem :
- pós-graduação;
- Corel Draw, Illustrator, Photoshop, In- Design, SM etc;
- outros cursos livres;
- idiomas .

Isso tudo pra vaga de assistente de estilo. E além de tudo isso, exigem experiência, mesmo entre os recém-formados. Até mesmo quando as pessoas vão em busca de estágio, levam um não na cara - ou exigem um milhão de coisas !
Mesmo pedindo coisas absurdas, os salários para iniciantes são muito baixos - e a carga horária é extenuante . O que você ganha não cobre nem metade do que você gastou em cursos ! Só mesmo o amor pela moda é o que compensa !
Desculpem a comparação, mas um trabalhador "braçal " muitas vezes ganha mais do que uma assistente de estilo, que tem mais especialização, digamos assim ...

- As vagas de estilo são muito pouco divulgadas e as poucas que têm são disputadas a socos e pontapés pelos candidatos.!
- Aquele lance de aprendiz não existe mais !!!
- Muitos tentam lançar a própria marca, mas por falta de incentivos e o pouco conhecimento en negócios , acabam falindo ...

A área de moda, tirando algumas exceções, ainda é muito elitista e exclusiva ( no sentido de exclusão ) e isso é muito evidente num país como o nosso, desigual por natureza - onde as oportunidades são para poucos - que segrega . E a moda não deveria ser tão elitista, pois uma das maiores estilistas da história da moda não era rica - começou de baixo, Coco Chanel, e vejam onde ela chegou !!!
Hoje em dia é mais fácil ser um designer famoso quem é formado em outras áreas, mas tem " bala na agulha ", do que quem é formado em moda. É só ver em sites e revistas de moda e celebridades.
Aqui dificilmente os talentos são reconhecidos e o modo mais recorrente de conseguir emprego em estilo é o QI : quem indica !
Os empresários não gostam de dar oportunidades e ainda a carreira não é vista como " normal " por algumas pessoas, que ainda associam moda com frescura , afetação e para desocupados. Sabemos que a realidade é bem diferente disso - pois é um muita " ralação " .
Não digo que todos os que saem dos cursos profissionalizantes e faculdades são talentosos, mas muitos talentos não são aproveitados por falta de oportunidades ... 

Os jovens que saem das faculdades se vêem perdidos e desmotivados ao encontrar " tantas pedras pelo caminho " nessa estrada estreita e tortuosa que é o mercado de trabalho da moda e acabam desistindo e optando por outras carreiras onde há mais vagas de emprego e o salário é maior, pois todos precisam pagar suas contas.
No final das contas - só os mais valentes sobreviverão, pois o mercado está cada vez mais impiedoso, exigente e injusto. Mas a esperança é a última que morre né, e isso vale pra mim também !

E para finalizar, tem um pensamento do Paulo Coelho que é bem oportuno de ser citado aqui :

" Não desista. Geralmente é a última chave do chaveiro que abre a porta ... "

Ps : se quiserem umas dicas bem legais sobre como se inserir no mercado de trabalho na moda, tem esse link do blog da Carla Lemos :

http://modices.com.br/moda/como-trabalhar-com-moda/


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